Entenda a neuroinflamação: sintomas e causas

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Você já ouviu falar em neuroinflamação?

O nome pode soar técnico demais, mas o impacto dela talvez esteja mais próximo da sua realidade do que você imagina.

Alterações no humor que não têm explicação clara, cansaço mental constante, perda de memória fora do comum…

E se tudo isso estivesse ligado a um processo inflamatório dentro do cérebro?

Então, continue lendo e saiba o que é a neuroinflamação, quais são os sintomas e como tratar!

O que é neuroinflamação?

A neuroinflamação é um termo que descreve uma resposta inflamatória no sistema nervoso central, mas não é simples como um inchaço no joelho.

Aqui, células específicas do cérebro — como micróglias e astrócitos — entram em estado de alerta quando detectam algo errado.

Em seguida, elas liberam substâncias químicas pró-inflamatórias, como citocinas e quimiocinas, que recrutam outras células de defesa.

Mas se o sinal de “alerta” persiste, essas moléculas passam a danificar neurônios e sinapses.

Os astrócitos — células que nutrem os neurônios — também entram nesse ciclo, liberando radicais livres que oxidam e matam células saudáveis.

Com a neuroinflamação crônica provocada, podem surgir alguns riscos.

Estudos mostram que a neuroinflmação está ligada a condições neurodegenerativas, como Alzheimer e Parkinson, onde a inflamação persistente acelera a morte neuronal.

Além disso, condições psiquiátricas como depressão, ansiedade podem ser exacerbadas por citocinas que interferem na síntese de neurotransmissores como serotonina.

Sintomas da neuroinflamação 

Os sintomas da neuroinflamação dependem da região cerebral afetada, da intensidade da resposta imune e da duração do processo.

Há uma variedade de sintomas da neuroinflamação, como:

  • Dores de cabeça tensionais: A inflamação nas meninges (membranas que envolvem o cérebro) ou em vasos sanguíneos cerebrais estimula receptores de dor;
  • Dificuldade para dormir: Citocinas suprimem a melatonina, hormônio que regula o sono. Além disso, a hiperatividade das micróglias mantém o cérebro em estado de vigília, mesmo à noite;
  • Perda de memória recente: O hipocampo, região que forma novas memórias, é vulnerável à inflamação. Assim, o nascimento de neurônios é inibido, e conexões existentes se enfraquecem.
  • Formigamento nas mãos ou pés: A inflamação em nervos periféricos (neuropatia) danifica a bainha de mielina, causando dormência;
  • Sensibilidade a luz e sons: Sons normais podem parecer estridentes, e luzes comuns, ofuscantes;
  • Tremores ou rigidez muscular: Inflamação nos gânglios da base, área que controla movimentos, prejudica a transmissão dopaminérgica, levando a tremores ou lentidão;
  • Compulsão por doces ou gordura: A inflamação no hipotálamo, região que regula fome, desequilibra os sinais de saciedade. O corpo busca energia rápida para “combater” o estresse inflamatório;
  • Queda na libido: A neuroinflamação afeta o eixo hormonal hipotálamo-hipófise, reduzindo a produção de testosterona e estrogênio, essenciais para o desejo sexual;
  • Problemas digestivos: O eixo intestino-cérebro é uma via de mão dupla. A inflamação neural aumenta a permeabilidade intestinal, liberando toxinas que pioram a resposta imune.

Quais são as causas da inflamação no sistema nervoso?

O gatilho da neuroinflamação pode ser uma infecção, um trauma ou até mesmo hábitos do dia a dia, como uma dieta inadequada.

Contudo, o que define a gravidade é o tempo de exposição a esses fatores e a capacidade do organismo em interromper a resposta imune. 

Conforme apontam os estudos, os seguintes fatores são os principais desencadeantes da neuroinflamação:

  • Infecções por vírus neurotrópicos: Vírus como herpes, HIV e o SARS-CoV-2 (causador da COVID-19) têm capacidade de invadir o sistema nervoso, desencadeando inflamação neural;
  • Traumas cranioencefálicos: Pancadas na cabeça causam danos físicos aos neurônios e liberam proteínas que estimulam a resposta imune;
  • Doenças autoimunes: Condições como esclerose múltipla fazem o sistema imunológico atacar a mielina, revestimento dos neurônios, gerando inflamação persistente;
  • Depósitos de proteínas anormais: O acúmulo de beta-amiloide (no Alzheimer) ou alfa-sinucleína (no Parkinson) irrita as células gliais, levando à liberação de citocinas inflamatórias;
  • Exposição a toxinas ambientais: Metais pesados (chumbo, mercúrio), agrotóxicos e poluentes do ar atravessam a barreira hematoencefálica e danificam células cerebrais;
  • Estresse crônico: O cortisol elevado modifica a função das micróglias, tornando-as hiperativas e agressivas aos neurônios;
  • Obesidade e dieta inadequada: Gorduras trans e açúcares refinados aumentam a permeabilidade intestinal, permitindo que toxinas entrem na corrente sanguínea e atinjam o cérebro;
  • Distúrbios do sono: A privação de sono impede a limpeza de metabólitos tóxicos no cérebro, como a proteína tau, que promove inflamação; 
  • Consumo excessivo de álcool: O álcool danifica a barreira hematoencefálica e estimula a produção de radicais livres, que oxidam tecidos neurais;
  • Resistência à insulina: O excesso de glicose no sangue desregula o metabolismo cerebral e ativa vias inflamatórias. 

Neuroinflamação e COVID-19 

A pandemia de COVID-19 trouxe à tona uma ligação preocupante com a neuroinflamação.

Muitos pacientes relatam sintomas neurológicos meses após a infecção, como perda de memória e fadiga extrema.

Pesquisas recentes mostram que o vírus SARS-CoV-2 também tem mecanismos para atingir o sistema nervoso central. 

Uma vez no cérebro, o vírus pode infectar astrócitos e micróglias, desencadeando uma resposta imune exagerada.

As moléculas inflamatórias produzidas no corpo inteiro atravessam a barreira hematoencefálica e ativam células gliais no cérebro.

Isso cria um ciclo vicioso: a inflamação periférica alimenta a inflamação neural, e vice-versa. 

Existe tratamento para a inflamação neural?

Controlar a neuroinflamação costuma ser um desafio médico, mas não impossível.

O tratamento é orientado a causa subjacente: uma infecção viral precisa estratégias diferentes de uma inflamação causada por hábitos ruins.

Em todo caso, o objetivo é interromper o ciclo de ativação imune excessiva sem comprometer a defesa do organismo.

Nesse processo, estratégias de estilo de vida são importantes.

Intervenções como dieta balanceada, exercícios físicos e controle do estresse reduzem marcadores inflamatórios no sistema nervoso e podem ajudar a suprimir a neuroinflamação.

O que acontece se não tratar a neuroinflamação? 

Sem intervenção, a neuroinflamação continua a danificar neurônios e sinapses, já que as células que deveriam proteger o tecido neural permanecem liberando toxinas.

Com o tempo, áreas responsáveis pela memória perdem conexões, levando a esquecimentos frequentes e dificuldade para aprender novas informações. 

A saúde mental também é afetada.

Citocinas inflamatórias interferem na produção de neurotransmissores como serotonina e dopamina, associados ao humor e à motivação.

Como a dieta influencia a neuroinflamação 

Dieta e neuroinflamação estão intimamente relacionadas.

Uma dieta rica em fibras alimenta bactérias benéficas, que produzem ácidos graxos de cadeia curta (SCFAs).

Esses compostos podem reduzir a ativação de micróglias e a liberação de citocinas inflamatórias. 

Por outro lado, alimentos ultraprocessados têm o efeito oposto.

Eles contêm aditivos que irritam a parede intestinal, permitindo que toxinas entrem na corrente sanguínea.

Uma dessas toxinas, o lipopolissacarídeo (LPS), pode ativar respostas imunes no cérebro.

Estudos já mostraram que níveis elevados de LPS no sangue estão associados a maior risco de depressão e declínio cognitivo. 

O equilíbrio entre ômega-3 e ômega-6 na dieta também é importante.

O ômega-3 (encontrado em peixes como sardinha) tem efeito anti-inflamatório, mas o excesso de ômega-6 é pró-inflamatório.

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Quais alimentos causam inflamação no sistema nervoso? 

Alguns alimentos, em excesso, ativam mecanismos que irritam o sistema nervoso central.

O açúcar refinado, por exemplo, não apenas eleva a glicemia, como também pode estimular a neuroinflamação se consumido quando há exageros.

Já as gorduras trans, presentes em produtos industrializados, demonstraram alterar a composição das membranas neuronais, tornando-as mais suscetíveis a danos. 

Aditivos químicos, como emulsificantes em sorvetes e biscoitos, perturbam a microbiota intestinal.

Isso leva à disbiose, um desequilíbrio bacteriano que aumenta a permeabilidade intestinal.

Toxinas escapam para a corrente sanguínea e chegam ao cérebro, onde desencadeiam respostas imunes.

Também esteja atento a: 

  • Frituras em óleo reutilizado: Geram aldeídos, compostos tóxicos que danificam neurônios;
  • Farinha branca em excesso: Alta carga glicêmica, estimula a liberação de insulina e processos inflamatórios;
  • Bebidas alcoólicas: Podem danificar a barreira hematoencefálica e geram radicais livres;
  • Glúten (para sensíveis): Em pessoas com intolerância, desencadeia resposta imune que afeta o SNC;
  • Alimentos com corantes artificiais: Ativam mastócitos, células que liberam histamina, que podem amplificar a inflamação.

Quais alimentos diminuem a neuroinflamação? 

Certos nutrientes possuem propriedades que acalmam a atividade imune no sistema nervoso central.

Esses compostos reforçam a barreira hematoencefálica, ajudando a impedir que toxinas e patógenos atinjam o tecido neural. 

Portanto, se você deseja combater a neuroinflamação através da sua dieta, favoreça os seguintes alimentos: 

  • Salmão e sardinha: Fontes de ômega-3 (DHA e EPA), que suprimem a produção de citocinas como IL-6;
  • Açafrão-da-terra (cúrcuma): A curcumina pode ajudar a bloquear a via NF-kB, central na regulação da inflamação neural;
  • Brócolis e couve-flor: Contêm sulforafano, que favorece enzimas antioxidantes no cérebro;
  • Mirtilos e amoras: Ricos em antocianinas, protegem os neurônios contra danos oxidativos;
  • Chá verde: Estudos mostram que a epigalocatequina galato (EGCG), presente no chá verde, pode suprimir a ativação de células inflamatórias;
  • Nozes e castanhas: Fornecem vitamina E, nutriente que protege as membranas neuronais;
  • Azeite de oliva extravirgem: O oleocanthal ajuda a inibir enzimas inflamatórias, um efeito similar a anti-inflamatórios não esteroides;
  • Chocolate amargo (70%+): Rico em flavonoides, melhoram o fluxo sanguíneo cerebral e reduzem a inflamação;
  • Gengibre: Possui gingerol, que ajuda a diminuir a expressão de genes ligados à inflamação neural;
  • Alho: Rico em compostos sulfúricos que modulam a resposta imune e reduzem o estresse oxidativo. 

Conclusão 

A neuroinflamação não é um destino inevitável.

Ela surge de fatores cotidianos, ambientais e biológicos que, juntos, moldam a saúde cerebral.

Busque um profissional de saúde para te avaliar caso suspeite que tenha sintomas de neuroinflamação.

PERGUNTAS FREQUENTES

A neuroinflamação afeta apenas pessoas idosas?

Não, pode afetar qualquer idade. Embora seja mais comum em doenças neurodegenerativas, infecções, traumas ou alterações metabólicas podem desencadear neuroinflamação em jovens também.

Existe exame específico para detectar neuroinflamação?

Não há exame único que confirme a neuroinflamação. Geralmente, médicos usam ressonância magnética, exames de sangue e análises do líquido cefalorraquidiano para avaliar sinais de inflamação no sistema nervoso central.

Mudanças de estilo de vida influenciam a neuroinflamação?

Sim, hábitos como exercícios regulares, sono adequado, alimentação balanceada e redução do estresse podem modular a ativação de células inflamatórias no cérebro e contribuir para o controle da neuroinflamação.

Suplementos ajudam a controlar a neuroinflamação?

Evidências moderadas sugerem que o ômega-3, que possui efeito anti-inflamatório no cérebro, pode ajudar. No entanto, o uso deve ser feito apenas com orientação profissional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMERICAN BRAIN FOUNDATION. Neuroinflammation: What Many Brain Diseases Have in Common. American Brain Foundation, 13 jan. 2025. Disponível em: https://www.americanbrainfoundation.org/what-is-neuroinflammation/.

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WU, Anbiao; ZHANG, Jiyan. Neuroinflammation, memory, and depression: new approaches to hippocampal neurogenesis. Journal of Neuroinflammation, [S.l.], 2023.

*Este conteúdo tem caráter apenas informativo e não substitui o diagnóstico ou tratamento de um médico ou nutricionista. As informações aqui apresentadas não devem ser aplicadas de forma individual sem orientação profissional.

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