Disbiose intestinal: o que é, sintomas e tratamentos

Você já ouviu falar em disbiose intestinal?

Essa alteração na flora intestinal está por trás de uma lista enorme de sintomas que muitos encaram como “normais do dia a dia”.

Cansaço constante, inchaço, gases, ansiedade, queda de cabelo, insônia, dificuldade de concentração, TPM intensa e até depressão…

Mas como saber se você está com disbiose, se não existe um único sintoma específico?

Por que ela acontece, mesmo entre pessoas que “comem bem”? Quais hábitos estão silenciosamente alimentando esse desequilíbrio?

É exatamente sobre isso que vamos falar ao longo deste artigo…

O que é disbiose intestinal? 

A disbiose intestinal é um desequilíbrio na composição da microbiota intestinal, aquele ecossistema complexo de bactérias, fungos e outros microrganismos que vivem no nosso intestino.

Quando essa comunidade está em harmonia, ela ajuda na digestão, na síntese de vitaminas, no fortalecimento da imunidade e até na regulação do humor.

Mas quando algo a desequilibra, seja por alimentação ruim, estresse crônico ou uso excessivo de medicamentos, o corpo começa a dar sinais. 

Esse desbalanço não é apenas sobre ter “mais bactérias ruins” — é uma questão de diversidade reduzida ou de funções comprometidas.

Imagine que algumas espécies são especialistas em quebrar fibras, outras em combater patógenos, e assim por diante.

Se um grupo domina ou desaparece, todo o sistema perde eficiência.

Quais são os sintomas da disbiose intestinal? 

Os sinais da disbiose intestinal variam muito, e é fácil confundi-los com outros problemas de saúde.

No início, podem ser leves: uma digestão mais lenta, desconforto após comer ou episódios alternados de prisão de ventre e diarreia.

Com o tempo, porém, o corpo começa a dar alertas mais amplos.

Muitas pessoas podem sofrer cansaço constante, mesmo sem mudanças na rotina, ou dificuldade para se concentrar.

Isso acontece porque o intestino produz parte da serotonina, neurotransmissor ligado ao bem-estar, e um desequilíbrio microbiano reduz sua síntese.

A disbiose intestinal também pode interferir na absorção de ferro, vitamina B12 e magnésio, levando a deficiências nutricionais que afetam o corpo inteiro.

Então, se você identifica vários dos sinais abaixo, é importante consultar um profissional de saúde para investigar a saúde intestinal:

  • Inchaço abdominal após as refeições;
  • Fezes com odor forte ou consistência irregular;
  • Desejos intensos por açúcar ou carboidratos refinados;
  • Coceira na pele ou olheiras acentuadas;
  • Sensação de “mente nebulosa” (ou brain fog);
  • Histórico de infecções urinárias ou candidíase;
  • Dificuldade para ganhar ou perder peso;
  • Sensibilidade a alimentos que antes eram tolerados.

O que causa disbiose intestinal? 

A disbiose intestinal é fruto de um conjunto de hábitos e exposições que, somados, desestabilizam a microbiota.

A dieta é o fator causador mais comum, embora não seja o único.

O consumo excessivo de açúcar, gordura saturada, aditivos alimentares e a falta de fibras, pode deixar a microbiota faminta.

Do mesmo modo, o uso indiscriminado de antibióticos também influencia nesse quadro.

Esses medicamentos são importantes para combater infecções bacterianas, mas não diferenciam microrganismos “bons” dos “ruins”.

Um tratamento prolongado ou mal dosado pode dizimar populações inteiras da microbiota, deixando o intestino vulnerável.

Além disso, o consumo excessivo de anti-inflamatórios e inibidores de bomba protônica (como omeprazol) interferem na produção de muco protetor e no pH estomacal, facilitando o desequilíbrio. 

Outras causas também associadas à disbiose intestinal: 

  • Estresse prolongado e distúrbios do sono;
  • Consumo excessivo de álcool e tabagismo;
  • Doenças crônicas (diabetes, síndrome do intestino irritável);
  • Exposição a toxinas ambientais (agrotóxicos, poluição).

Fatores de risco 

Embora qualquer pessoa possa desenvolver o problema, alguns perfis estão mais suscetíveis.

Isso não significa que a disbiose intestinal seja inevitável, mas entender quem está em maior risco ajuda na prevenção.

Pessoas com rotinas desregradas, por exemplo, frequentemente negligenciam aspectos básicos, como sono ou a gestão do estresse.

Vale destacar que a disbiose intestinal também tem raízes em condições pré-existentes.

Condições crônicas, mesmo que não diretamente ligadas ao sistema digestivo, podem criar um ambiente propício ao desequilíbrio.

Também esteja atento se você: 

  • Tem histórico de infecções gastrointestinais: Quem já teve gastroenterites bacterianas ou parasitoses pode ter a microbiota alterada de forma persistente, mesmo após o tratamento;
  • Faz uso frequente de medicamentos: Além de antibióticos, corticoides e quimioterápicos afetam a sobrevivência de microrganismos benéficos;
  • Segue uma dieta monótona: Consumir sempre os mesmos alimentos pode reduzir a variedade de fibras disponíveis para alimentar a microbiota;
  • Tem doenças autoimunes: Condições como lúpus ou artrite reumatoide estão associadas a alterações na permeabilidade intestinal;
  • Possui idade avançada: Com a idade, a produção de ácido estomacal diminui, facilitando a colonização por bactérias indesejadas;

Como é feito o diagnóstico? 

Não existe um teste único e definitivo para identificar a disbiose.

Portanto, é uma combinação de avaliações clínicas e laboratoriais solicitadas por um médico que ajudam a confirmar o diagnóstico.

Exames de fezes são os mais utilizados nesses casos.

Eles avaliam a presença de bactérias, fungos e marcadores inflamatórios, como a calprotectina.

Testes genéticos também estão disponíveis para identificar espécies microbianas específicas.

No entanto, resultados alterados não confirmam a disbiose intestinal sozinhos — é preciso correlacioná-los com o quadro clínico. 

Outra ferramenta é o teste respiratório para intolerâncias alimentares, como lactose ou frutose.

Quando o intestino está desequilibrado, a digestão desses açúcares fica comprometida, gerando gases que são detectados na respiração.

Quais são os tratamentos para disbiose intestinal? 

Restaurar o equilíbrio da microbiota é um processo gradual e feito com acompanhamento multidisciplinar entre médicos e nutricionistas.

O objetivo é criar um ambiente favorável para que os microrganismos benéficos se restabeleçam, enquanto se reduz a carga dos prejudiciais. 

O tratamento para disbiose intestinal não foca apenas em probióticos. Embora sejam úteis, eles são parte da solução.

A abordagem também deve considerar possíveis comorbidades.

Pessoas com disbiose intestinal e, por exemplo, diabetes, precisam de ajustes na dieta feitos por um nutricionista, para evitar picos de glicemia que alimentam bactérias patogênicas.

O tratamento nunca é isolado — integra-se a um plano maior, que envolve:

  • Dieta de rotatividade: Consumir diferentes fontes de fibras a cada dia estimula a diversidade microbiana;
  • Prebióticos específicos: Substâncias como amido resistente podem alimentar bactérias produtoras de butirato, um anti-inflamatório natural;
  • Redução de antinutrientes: Técnicas como demolhar grãos e leguminosas diminuem fitatos, que podem irritar o intestino sensível;
  • Gerenciamento do ritmo circadiano: Alinhar horários de refeições e sono regula os ciclos metabólicos da microbiota;
  • Terapia fecal: Transplante de microbiota fecal é opção em casos graves, mas ainda sob pesquisa para uso em disbiose não associada a Clostridium difficile;
  • Redução de toxinas ambientais: Substituir produtos de limpeza agressivos por alternativas menos tóxicas pode diminuir a carga química sobre o intestino.

O que pode acontecer se o quadro não for tratado?

Com o tempo, o desequilíbrio microbiano se aprofunda, e os danos extrapolam o sistema digestivo.

Um dos primeiros efeitos é a inflamação crônica de baixo grau, que silenciosamente danifica tecidos e órgãos.

Essa inflamação persistente está ligada a condições como resistência à insulina, que pode evoluir para diabetes tipo 2, mesmo em pessoas sem histórico familiar. 

O intestino também perde sua capacidade de atuar como barreira seletiva.

Quando a permeabilidade intestinal aumenta, toxinas e partículas mal digeridas entram na corrente sanguínea.

O sistema imunológico reage a esses invasores, mas, com o tempo, pode começar a atacar o próprio corpo.

É um caminho para o desenvolvimento de doenças como Hashimoto ou doença celíaca, mesmo em indivíduos sem predisposição genética. 

Estudos também sugerem que a disbiose não tratada está associada a um maior risco de Alzheimer devido ao acúmulo de proteínas inflamatórias no sistema nervoso. 

Estratégias de prevenção da disbiose intestinal

A prevenção da disbiose intestinal começa com hábitos simples, mas consistentes, que muitas pessoas subestimam.

Um exemplo é a hidratação: água facilita o transporte de nutrientes que alimentam microrganismos.

Beber menos do que o necessário resseca o muco protetor da parede intestinal, deixando-a vulnerável a invasores. 

Outro ponto de atenção é a variedade na rotina.

Trocar marcas de alimentos, experimentar vegetais pouco consumidos e até viajar (para expor o corpo a micróbios ambientais diferentes) são estratégias subutilizadas.

A prevenção da disbiose intestinal também envolve saber quando não agir.

Automedicação, especialmente com anti-inflamatórios ou laxantes, pode desregular o pH do intestino e eliminar bactérias essenciais.

Outras estratégias práticas para prevenir a disbiose intestinal incluem: 

  • Prática de exercícios de baixa intensidade: Caminhadas diárias ou ioga estimulam movimentos peristálticos sem causar estresse oxidativo excessivo, comum em atividades muito intensas;
  • Rotina de sono consistente: Dormir e acordar no mesmo horário estabiliza os ritmos circadianos da microbiota, que sincronizam com os do hospedeiro;
  • Uso criterioso de produtos de higiene íntima: Sabonetes vaginais ou desodorantes íntimos podem inibir o crescimento de bactérias protetoras, aumentando o risco de migração de patógenos para o intestino.
disbiose intestinal alimentos permitidos

Alimentos recomendados para reequilibrar a flora intestinal

A conexão entre dieta e saúde intestinal vai além de “comer fibras”.

Cada alimento interage com a microbiota de formas únicas, liberando compostos que podem estimular ou suprimir grupos microbianos.

Por exemplo, a absorção de polifenóis — antioxidantes que modulam a microbiota — é potencializada na presença de gorduras saudáveis.

Em todo caso, se você está tentando reequilibrar sua flora intestinal, priorize os seguintes alimentos em sua dieta:

  • Raiz de chicória: Rica em inulina, fibra prebiótica que ajuda a estimular bifidobactérias. Especialistas recomendam a adição em sopas ou torrada como substituta do café;
  • Folhas de dente-de-leão: Contêm oligossacarídeos, que podem reduzir a proliferação de Clostridium, gênero associado à disbiose intestinal;
  • Alho-poró cozido: Libera compostos sulfurados que nutrem bactérias produtoras de hidrogênio, gás com efeito anti-inflamatório;
  • Kefir de água: Menos conhecido que o de leite, é rico em leveduras benéficas como Saccharomyces boulardii, úteis contra desequilíbrios por cândida;
  • Miso branco: Tem enzimas que melhoram a digestão de proteínas, e podem aliviar a carga sobre o intestino;
  • Sementes de abóbora germinadas: O processo de germinação aumenta seus níveis de zinco, mineral crítico para a integridade da barreira intestinal;
  • Acelga crua: Fonte de glutamina, aminoácido que auxilia no reparo da mucosa intestinal sem alimentar bactérias patogênicas. 

Conclusão

A disbiose intestinal não é um desequilíbrio passageiro.

Sem intervenção, ela abre portas para condições complexas e interligadas, muitas vezes irreversíveis.

A boa notícia é que o corpo tem capacidade de regeneração — mas isso depende de ações consistentes.

Se você desconfia do problema, não subestime os sinais.

Quanto antes o cuidado começar, menores são as chances de sequelas a longo prazo.

Marque uma consulta com um nutricionista para ajustar sua dieta caso você tenha sintomas de disbiose intestinal.

PERGUNTAS FREQUENTES

A disbiose intestinal pode influenciar alergias ou intolerâncias alimentares?

Um desequilíbrio na microbiota pode alterar a permeabilidade intestinal, permitindo que partículas de alimentos não totalmente digeridas entrem na corrente sanguínea. Isso pode aumentar a sensibilidade a certos alimentos e até levar ao desenvolvimento de alergias ou intolerâncias.

Antibióticos de uso frequente podem causar disbiose mesmo em pequenas doses?

Sim. Mesmo cursos curtos de antibióticos podem alterar temporariamente a composição da microbiota, favorecendo o crescimento de microrganismos resistentes ou patogênicos. O risco aumenta com uso repetido ou prolongado.

A disbiose intestinal tem relação com ganho ou perda de peso?

Sim. Quando a microbiota está desequilibrada, o corpo pode ter dificuldade para absorver nutrientes corretamente ou regular hormônios ligados à fome e ao metabolismo. Isso pode levar tanto à dificuldade de perder peso quanto ao ganho inesperado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

STRINDMO, I. S. M. Prevalence of dysbiosis and microbiotic effect of the low FODMAP diet in coeliac disease patients with IBS-like symptoms. 2016. Thesis (Master in Medicine) – Faculty of Medicine and Dentistry, University of Bergen, Bergen, 2016.

HOOKS, K. B.; O’MALLEY, M. A. Dysbiosis and its discontents. MBio, v. 8, n. 5, e01492-17, 2017.

*Este conteúdo tem caráter apenas informativo e não substitui o diagnóstico ou tratamento de um médico ou nutricionista. As informações aqui apresentadas não devem ser aplicadas de forma individual sem orientação profissional.

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CONTEÚDO REVISADO POR:

Brenda Ferreira

NUTRICIONISTA | CRN5 - 25288

Nutricionista pós-graduada em Nutrição Clínica em Endocrinologia e Metabologia, Nutrição Esportiva e Fitoterapia Aplicada à Nutrição.